Ele gravou cenas do cotidiano e dos rituais para o seu programa na Globo e, em determinado momento, orientou uma liderança indígena sobre a imagem que deveriam passar aos espectadores.
Ele pede para que ninguém apareça com o celular na mão e também para que não usem roupas “comuns” durante as gravações: “Limpa a cultura de vocês aí”, disse o apresentador, que nessa hora estava sentado ao lado da cantora Anitta, outra visitante –momento esse em que ela parece visivelmente constrangida.
No vídeo, Huck fala aos indígenas que “quanto mais celulares aparecem, menos é a cultura de vocês”. “Quanto mais a gente conseguir preservar nossas cenas sem celular… Quando aparece vocês de celular, acho que mexe na cultura original. Quando tiver gravando, se puder ‘segurar’ o celular. […] Se puder falar isso para o povo é bom”, orienta, com firmeza.
As imagens viralizaram nas redes sociais. “A Apib manifesta profunda indignação diante da fala de Luciano Huck, ‘limpem a cultura de vocês’ sugerindo que o uso do celular ‘suja’ a cultura indígena. Possuir um celular não torna um parente menos indígena. Nossa identidade não se mede por objetos, mas por ancestralidade, território, memória e luta”, escreveram, em nota.
A articulação ainda complementa dizendo que o acesso à tecnologia é um direito de todos os cidadãos brasileiros e que para os indígenas tem sido uma “ferramenta essencial na defesa dos territórios, no monitoramento ambiental, no acesso à educação e ao trabalho, na comunicação entre comunidades e Estado, e na denúncia de violações historicamente invisibilizadas.”
O que diz Luciano Huck
No dia seguinte à divulgação do vídeo, Luciano disse que o pedido se tratou de uma decisão da direção de arte do programa, “nada além disso”, e afirmou ser um defensor dos povos originários.
Leia a nota na íntegra:
“Minha relação com as comunidades indígenas no Brasil atravessa décadas. Sou, e sempre serei, defensor dos povos originários, de sua cultura, de sua territorialidade e de sua preservação. Dos Zo’é aos Yanomami, estive pessoalmente em dezenas de terras indígenas ao longo da minha trajetória. Eu conheço de perto essa realidade; não foi alguém que me contou.
Sempre defendi que as escolhas sobre modos de vida, tradições e caminhos futuros pertencem única e exclusivamente aos próprios povos indígenas.
Sobre a imagem em questão, registrada nos bastidores de uma gravação, é importante esclarecer: não se tratou de impor qualquer tipo de limitação cultural ou de consumo. Foi apenas uma decisão de direção de arte, um ajuste pontual dentro do contexto de um set de filmagem, nada além disso.”


