O ex-árbitro D’Guerro Batista Xavier, 46 anos, e o ex-presidente do Crato, Ivan Barros, foram presos pela Polícia Civil de Goiás nesta quarta-feira, 9, suspeitos de envolvimento em esquema de manipulação de resultados de jogos. As prisões ocorreram durante a Operação Jogada Marcada.
De acordo com Eduardo Gomes, delegado do Grupo Antirroubo a Banco da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), a investigação começou após denúncia do presidente do Goianésia Esporte Clube, Marco Antônio Maia, que também é delegado de Polícia Civil. Ele foi procurado por um dos aliciadores para receber uma alta quantia em dinheiro em troca da manipulação de resultados.
Sobre a prisão do ex-presidente do Crato, Ivan Barros, a autoridade policial informou que a medida decorreu de investigações já em curso pela Justiça Desportiva. As apurações identificaram manipulação de resultados, com o clube perdendo todas as partidas – algumas com placares atípicos – o que acabou resultando na suspensão do time do Campeonato Cearense por decisão do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Ceará (TJDF-CE).
Segundo a autoridade policial, a equipe de investigação conseguiu identificar as partidas suspeitas, cruzando as datas dos jogos com os valores recebidos pelo então presidente do clube no mesmo período – o que fortaleceu as evidências de seu envolvimento na manipulação de resultados. Os fatos referem-se ao Campeonato Cearense de 2022, primeira divisão do futebol estadual.
Prisão de ex-árbitro
D’Guerro foi detido em João Pessoa, na Paraíba. O mandado de prisão temporária dele foi cumprido com apoio da Polícia Civil da Paraíba. O suspeito já havia sido alvo da Operação Cartola, realizada em 2018 pela Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF) de João Pessoa (PB), e estava afastado da arbitragem profissional desde então.
Segundo as investigações, D’Guerro é suspeito de aliciar árbitros e orientá-los a conduzir partidas de forma a beneficiar redes de apostadores.
De acordo com a Polícia Civil, ele integrava um grupo intitulado “Árbitros da Propina”, suspeito de manipular resultados de jogos tanto na Série B do Campeonato Brasileiro quanto no Campeonato Angolano.
Investigações sobre organização criminosa
Após a denúncia do presidente da Goianésia, a polícia obteve com o presidente do time os dados telefônicos utilizados pelo aliciador para o contato. As apurações revelaram que o indivíduo, residente no Espírito Santo, mantinha diversos vínculos com o meio esportivo, especialmente no futebol.
As investigações avançaram com a hipótese de que o suspeito não estaria atuando apenas no caso goiano, mas possivelmente em outros estados. De acordo com as provas coletadas, as fraudes envolviam transferências bancárias irregulares com atletas de diversas unidades federativas e até de equipes estrangeiras.
Embora as investigações tenham confirmado o envolvimento do suspeito em manipulação de resultados, até o momento não foram encontradas evidências de sua atuação junto a times goianos. Contudo, foram identificadas tentativas de manipulação em diversos outros estados brasileiros.
“Sempre com uma linha de atuação nos pequenos times, onde esses aliciadores acham que conseguem ter mais acesso porque são times de poucos recursos financeiros, então, é mais fácil com que eles consigam corromper os jogadores, técnicos e até presidentes”, explicou o delegado.
De acordo com Gomes, a operação resultou no cumprimento de 19 mandados de busca e apreensão, seis prisões — incluindo também ex-jogadores — e ainda há uma pessoa foragida. As ações ocorreram nos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará, Maranhão e Espírito Santo.
As investigações apontam que o esquema fraudulento movimentou aproximadamente R$ 11 milhões em valores ilícitos, com operações realizadas tanto em plataformas de apostas esportivas quanto em transações bancárias. Segundo as autoridades, o foco principal da organização criminosa era a manipulação de resultados na Série D do Campeonato Brasileiro.
Segundo as apurações, o esquema operava através de três núcleos distintos: um financeiro, responsável por fornecer os recursos ilícitos; um intermediário, composto por aliciadores que faziam as propostas a membros de times; e outro esportivo, formado por atletas, árbitros e dirigentes que recebiam pagamentos.
O modus operandi envolvia o conhecimento antecipado de ações combinadas, como marcações de pênaltis, que permitiam apostas vencedoras. Os investigadores estão cruzando dados de transferências bancárias, datas de jogos e registros de apostas para comprovar as manipulações.
As investigações também apontam para tentativas de manipulação em torneios internacionais. Na Liga Equatoriana, os criminosos chegaram a apostar R$ 100 mil em um resultado específico (derrota por 3 gols de diferença), mas tiveram prejuízo quando o time não cumpriu o combinado. Há ainda indícios de envolvimento de um jogador brasileiro que atua em uma liga secundária europeia e mantém contatos com atletas das Séries A e B brasileiras.
Atualmente, não há evidências de manipulação na principal divisão do futebol nacional. A polícia apreendeu eletrônicos, anotações e outros materiais que devem ajudar a identificar a extensão total do esquema. Segundo o delegado, novas fases da operação são esperadas à medida que as análises dos dados apreendidos avançam, com a possibilidade de mais prisões.
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