Vinda de Portugal, onde morava com a avó, Nina atravessa a vegetação que cerca a mansão dos Boaz, invade a casa e sobe até o quarto de Sofia (Elis Cabral), assustando Leona (Clara Moneke). O retorno inesperado da personagem movimentou a novela e, aos poucos, revelou ao público um perfil cheio de contradições.
Flora reconhece que sua personagem é diferente de tudo o que acredita, justamente por flertar com uma vilania particular. “Ela é uma pessoa muito fria, com traços que não têm nada a ver comigo”, diz a atriz à reportagem.
“O que mais me chama atenção é essa necessidade de ser independente a qualquer custo. Eu, Flora, também sou independente desde pequena, mas confio muito nos outros e tenho essa troca, que é algo que a Nina não consegue”, explica.
Apesar da frieza da personagem, a atriz destaca que tudo na trama está amparado no repertório da relação de Nina com a mãe -uma história cheia de camadas, marcada por vazios e carência. Essa complexidade, segundo ela, é o que a atrai no trabalho.
“A Nina tem esse alcance muito grande, de falar com muitos brasileiros, e é o tipo de personagem que gosto de fazer”, conta. “Além disso, eu tenho colegas de trabalho inacreditáveis, tanto no elenco quanto na equipe. Isso faz toda diferença.”
A carreira de Flora ainda é recente, mas já marcada por personagens “boas de briga”. Depois de protagonizar a série “A Vida Pela Frente”, dirigida por Leandra Leal, no papel de Beta, ela brilhou como Bia em “Vai na Fé”, sua primeira parceria com a autora Rosane Svartman.
A novela das 19h conquistou o público jovem, abordando temas como representatividade negra e LGBTQIA+, universo cristão e saúde mental. Agora, em “Dona de Mim”, a atriz encara sua terceira personagem na TV Globo.
A atriz afirma que o processo de criação da Nina exigiu entrega desde as primeiras etapas. Ela mergulhou nas provas de caracterização, contribuindo com ideias e referências para figurino. A moda, segundo ela, é mais do que um detalhe: é uma forma de expressão e proteção.
“Eu realmente não ligo quando as pessoas acham minha roupa esquisita”, afirma. “Eu me visto 100% para mim. Acho legal promover a ideia de que todo mundo consegue usar o estilo a seu favor. O jeito que me visto é um traço da minha personalidade, e gosto quando as pessoas se inspiram.”
A rotina de gravações também a faz repensar a relação entre atriz e personagem. “Conforme a gente vai fazendo a novela, vai se aproximando. Trabalhamos seis dias por semana, 11 horas por dia. Então, quase que passamos mais tempo sendo personagem do que sendo nós mesmos”, comenta.
Apesar de afirmar estar sempre entusiasmada, a atriz reconhece os riscos da carreira. “É uma profissão muito insegura, você nunca sabe quando vai pegar o próximo trabalho”, avalia. “Muitas vezes, acho que quem escolhe ser ator é porque não consegue ser outra coisa, porque precisa disso. Eu sinto isso também.”
Flora encara essas incertezas com uma filosofia que carrega de casa. “Ser um bom profissional é relativo ao que você faz com gosto. Mesmo se eu estivesse ferrada de grana, sendo atriz, pelo menos eu teria uma vida que vale a pena ser vivida”, afirma. “Isso é um dos grandes ensinamentos que meus pais me deram.”